domingo, 23 de junho de 2013

Um menino da Síria II

Mário Rita

Bebem a água da guerra os cordeiros dos beduínos
Só uma luz celestial pode iluminar a casa onde mora um menino
A casa não tem luz
Vivem assim estes meninos

Nenhum cordeiro é mais pobre do que as pessoas da Síria
Alguns fugiram do deserto
São cordeiros da mendicância
Os cordeiros da mendicância estão desorientados e morrem
Nos caminhos

O menino não é conduzido pelo cordeiro

Na Síria as luzes estão apagadas
Nenhuma casa tem gerador

Nenhuma tribo se ergueu salva
Nenhuma tribo se ergueu salva
Nenhum anjo veio anunciar nada
Ninguém disse a este menino: Estou aqui
Nenhum mirto nem oliveira se tornou numa árvore salvadora

Ninguém salva os descendentes da mesma tribo
Nenhuma estrela indicou a direcção

Este menino ainda tem um grão de areia na sua boca para a fome
Os pais do menino puseram-se a caminho  com um farol aceso
Durante a noite como cavalos no mar
Que não têm mirra nem incenso
O menino tem de passar a fronteira
Numa transumância diferente da dos seus antepassados