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Mário Rita |
Onde estão as tuas sete portas com ninhos de pombas brancas
Dá-me o perfume da flor de laranjeira
Quero molhar o rosto nas águas das tuas fontes
Recolher-me na Grande Mesquita com
os peregrinos pobres
Acenar-te com um lenço branco depois
de morrer
Ser tua cidadã
Na raiz das oliveiras que deram o azeite
Mais antigo do mundo
O azeite não curou as minhas chagas
Dá-me o chá da folha de laranjeira
O licor de anis
Para me sedar
Ouvi os frutos das romãzeiras
Entoar salmos
As amendoeiras sobrevoaram os céus
Transfiguradas em morteiros
Dá-me a lua eterna das mil e uma noites
Cidade das ruínas do presente
Deixa-me morrer
Bordei o cetim para o vestido de noiva da minha filha
Com os meus dedos dourados
Agora peço-te que me cubras com um véu de noite
Que traga o esquecimento
O passado foi o teu esplendor
Uma rosa-dos-ventos desorientada indicou os
Caminhos da guerra
Quantos mortos nos teus túmulos
Jazidos ao ar livre
A um jarrinho de azeite confiei a minha última esperança
Era doce o rosto da minha filha num casamento
De felicidade
Talvez um vento áspero vindo do deserto
Transporte o meu coração para um mais além
Onde jejuarei para sempre
Cidade do mundo a mais antiga
Neste princípio escaldante de Julho
Morrerei numa perpétua aliança
Aos astros e aos planetas
Quero ser uma árvore queimada nesta tempestade
Que a todos mata
Desde as formigas aos confins do género humano
Tudo é alquimia de sofrimento
Pão do sangue do cordeiro
Amassado com sal insano
Tudo é chama infernal que não saberei quando cessa