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Mário Rita |
Uma filha ora pela mãe
Dá-me a estrela
Não a estrela assassina afogada
No balde de um carrasco
Mas a estrela da tua bondade
A estrela ofertada por ti quando nasci
A estrela da tua sorte
Mãe vem comigo
Desce numa carruagem do céu superestrelado
Os meus dentes foram feridos
Por um chicote
No dia em que morreste
Tão forte é o meu desespero
Com o pescoço apoiado numa coluna em queda livre
A noite não se desvela aos meus dedos iniciáticos
Ardo ao calor tórrido deste mês trágico
Acendem-se velas em
castiçais de ouro no cérebro
Um grão-de-bico encortiçado já era mau sinal
Quando a mãe fritava o falafel
As visões são únicas guardiãs de um cérebro
A atingir um limite
Cravos pregados
Nos pulsos da mãe
A filha chegou a vê-los
Terrível cruz destas mães e destas filhas
As visões da filha radiografam um presente
De fervorosa febre e fé
Rogai por nós os desterrados
Vinte angelicais seres
Vindos de um espaço luminescente
Sem joelhos sequer vos ajoelhais
Em debandada bombardeados
Num santuário
Sem nenhuma morfina que vos anestesie
Brancos e lúcidos vossos rostos me sorriem
Crianças sobretudo
A filha também acabou os seus dias