domingo, 7 de julho de 2013

As mães da Síria III


Mário Rita

Uma filha ora pela mãe

Dá-me a estrela
Não a estrela assassina afogada
No balde de um carrasco

Mas a estrela da tua bondade
A estrela ofertada por ti quando nasci
A estrela da tua sorte

Mãe vem comigo
Desce numa carruagem do céu superestrelado

Os meus dentes foram feridos
Por um chicote
No dia em que morreste

Tão forte é o meu desespero
Com o pescoço apoiado numa coluna em queda livre

A noite não se desvela aos meus dedos iniciáticos
Ardo ao calor tórrido deste mês trágico

 Acendem-se velas em castiçais de ouro no cérebro
Um grão-de-bico encortiçado já era mau sinal
Quando a mãe fritava o falafel

As visões são únicas guardiãs de um cérebro
A atingir um limite

Cravos pregados
Nos pulsos da mãe
A filha chegou a vê-los

Terrível cruz destas mães e destas filhas

As visões da filha radiografam um presente
De fervorosa febre e fé

Rogai por nós os desterrados
Vinte angelicais seres
Vindos de um espaço luminescente
Sem joelhos sequer vos ajoelhais
Em debandada bombardeados
Num santuário
Sem nenhuma morfina que vos anestesie
Brancos e lúcidos vossos rostos me sorriem
Crianças sobretudo 

A filha também acabou os seus dias