domingo, 14 de julho de 2013

As mães da Síria V


Mário Rita

A sola dos pés da vendedora de flores
Tinha uma hemorragia de sangue pisado

Nunca a rosa da angústia pode ser transmutada
Desde que perde as pétalas

A sola dos pés ficou de pé até ao sem fim da guerra
Ensanguentada

Canivetes
Decepavam as entradas
Do mercado que vendia rosas e outras flores
Da Idade Média

As veias já sem sangue
Migraram para sabe-se lá qual espaço

 Tinha uma tribo de doze filhos 

No tempo verdejante da natureza deste ano
Já as solas dos pés carbonizaram em três rapazes

Na lonjura de um hospital de campanha
Outro é cirurgião lancetando
Veias de crianças e adultos

Uns combatem
Ainda

Menos de meia dúzia tinha emigrado

Impermeabilizados em parte a este terror
Não lhes ocorreu chamar os irmãos a tempo

 São mais as vezes em que as coisas que poderiam acontecer
Não acontecem
Pelo menos é assim em toda a Síria
Já não se pode ver reportagens desta guerra
Sem um âmbar escurecido
A pesar na consciência